sábado, 11 de agosto de 2012

“ Foi um dia, e outro dia, e outro ainda.
Só isso: o céu azul, a sombra lisa,
o livro aberto.
E algumas palavras.
Poucas, ditas como por acaso.
Eram, contudo, palavras de amor.
Não propriamente ditas, antes adivinhadas.
Ou só pressentidas.
Como folhas verdes de passagem.
Um verde, digamos, brilhante,
de laranjeiras.
Foi como se de repente chovesse:
as folhas, quero dizer, as palavras brilharam.
Não que fossem ditas,
mas, eram de amor, embora só adivinhadas.
Por isso brilhavam.
Como folhas molhadas. “

( Eugênio de Andrade )


“ Faço menos planos e cultivo menos recordações.
Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço.
Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve,
alcanço seus limites com as mãos,
é nele que me instalo e vivo com a integridade possível.
Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por
constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós. "

(  Martha Medeiros )