terça-feira, 31 de maio de 2011

DEUS – e de onde é que tiras para acender o céu
este maravilhoso entardecer de cobre?
Por ele soube encontrar de novo a alegria,
e a má visão eu soube torná-la mais nobre.

Nas chamas coloridas de amarelo e verde
iluminou-se a lâmpada de um outro sol
que fez rachar azuis as planícies do oeste
e verteu nas montanhas suas fontes e rios.

Deus, dá-me a festa mágica na minha Vida,
dá-me os teus fogos para iluminar a Terra,
deixa em meu coração tua lâmpada acesa
para que eu seja o óleo de tua luz suprema.

E eu irei pelos campos na noite estrelada
com os braços abertos e a face desnuda,
cantando árias ingênuas com as mesmas palavras
com que na noite falam os campos e a lua.

( Pablo Neruda )
Faz frio hoje.
O inverno está chegando.
Estranho, o inverno sempre me deixa um
pouco mais profundo. Me volto para dentro
de mim mesmo, tenho a impressão exata
de que me pareço com um dos plátanos
da praça aí de baixo: hirto, seco, mas
guardando alguma coisa por dentro.
Quem sabe se essa tristeza que tenho,
tão parecida com esse frio envergonhado
de não ser frio — quem sabe, se não é
apenas o derrubar das folhas?

( Caio Fernando Abreu )